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A AMEAÇA DE UMA VELHA CONHECIDA... PARA ALGUNS

Foto do escritor: VRemPautaVRemPauta

Inflação está entre nós. Índice de 10,25% é o mais alto para o mês em 27 anos

Em setembro você foi ao supermercado com cem reais no bolso e retornou para casa com apenas duas sacolas de compras. Pensou: “a pouco tempo atrás, gastando esse mesmo valor, eu trazia muito mais coisa”. Depois passou no posto de gasolina de sempre e pediu para o amigo frentista colocar os cinquenta reais habituais. Olhando o marcador de combustível no painel que pouco subiu, pensou: “antes do final de semana terei que passar aqui novamente”.


Para alguns millennials e centennials essa diminuição rápida do poder de compra da moeda certamente representa uma experiência nova, se considerarmos o relativo equilíbrio inflacionário que vivemos no país nos últimos anos, mesmo se contabilizada a desestabilização política de 2015-2016 e a crise de 2008, puxada pela economia norte-americana.


Há um consenso de que a inflação é o fenômeno mais comum de comportamento dos preços nas economias. Assim, é natural que os preços subam ao longo do tempo, e o mercado financeiro entende essa flutuação como ninguém. O que temos que observar é o ritmo desse aumento e quão generalizado ele é.


No caso do Brasil, a pressão inflacionária é um processo histórico, causou muitos estragos e essas marcas ainda são sentidas por muitos de nós. O problema começou a ganhar fôlego na década de 1930, no início da era Vargas, teve altos e baixos até os anos 1980, quando saiu completamente de controle.


Nossos filhos podem não acreditar, mas uma cena comum no comércio antes da chegada do Plano Real (1994) era ver um funcionário do supermercado com uma ‘arma’ em punho circulando pelos corredores e disparando sem cessar. A ‘arma’ era a máquina de remarcar preços, usada quase que diariamente em uma época de inflação descontrolada.


Quem está na casa dos 40 anos ou mais se lembra dos famosos “cortes de zeros”. Uma informação interessante é que o Brasil já recorreu a esse remédio em várias ocasiões – a última delas em 1994. Antes disso, o Brasil já havia cortado três zeros da sua moeda em 1942 (criação do cruzeiro), 1967 (cruzeiro novo), 1986 (cruzado), 1989 (cruzado novo) e 1993 (cruzeiro real). Em 1994, o Brasil trocou o cruzeiro real pelo real – 2.750 cruzeiros reais passaram a valer 1 real.


Muitos ainda se lembram de ir à padaria nos anos 1990 com uma nota de R$ 1 e voltar para casa com 10 pãezinhos – uma rotina impraticável hoje em dia. Segundo a calculadora de inflação do Banco Central, para ter o poder de compra daquele R$ 1 você precisaria hoje de R$ 6,93. Um aumento de 593,4% em 27 anos. Fazendo a conta ao contrário, aqueles R$ 1 de julho de 1994 equivaleriam a cerca de R$ 0,14.

Alguns marcos também são importantes: um deles é março de 1990, onde a inflação oficial registrada chegou ao patamar de assustadores 83,95% num único mês. No ano de 1993, a inflação registrada foi de 2.477% aa. Ou seja, os preços foram praticamente multiplicados por 26 entre o início e o final daquele ano, quando muitos dos pais dessa “Geração Z” ainda estavam brincando de pique nas ruas.


Então, apesar dos números do IPCA¹ para mês de setembro de 2021 serem importantes e inéditos para uma parte da juventude, não é nem de longe o pior dos cenários já vividos por muitos brasileiros. Mas isso também não significa que podemos entender esse indicador de dois dígitos como algo despretensioso, que não demanda nossa atenção e atuação.


O reaquecimento surpreendentemente acelerado das principais economias mundiais nesse momento de avanço vacinal, questões climáticas como secas e ausência de ventos na Europa, câmbio desvalorizado frente ao dólar, migração progressiva da matriz energética chinesa para uma mais limpa, fretes marítimos e gargalos logísticos globais, todos esses fatores são exemplos de fenômenos que estão por trás da expectativa maior de preços para 2021, e que vem se concretizando.


Cabe a nós acalmarmos nossos jovens, lembrando que já passamos por conjunturas tão ou mais graves do que a atual. Há de fato outros componentes relevantes no país, como a instabilidade política e a crise institucional, que faz com que investidores nos olhem com reserva, mantendo níveis ruins de emprego. Porém, à medida que esses e os outros efeitos transitórios que interferem na economia diminuem, a inflação deve cair de volta à nossa meta de longo prazo.


1. Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA que tem por objetivo medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias.

Fonte: Banco Central.


1 Comment


Guilherme Castilho
Guilherme Castilho
Oct 10, 2021

Ótima colocação. Parabéns

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