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A BOLHA UBER

Foto do escritor: VRemPautaVRemPauta

Depois de gastar bilhões de dólares, a Uber anunciou que estava finalmente no caminho da lucratividade

É uma terça-feira chuvosa. 09:45h. Você precisa chegar com rapidez em um dos centros da cidade de Volta Redonda, caso contrário se atrasará para sua consulta médica. Infelizmente, no nosso município você ainda não pode se organizar contando com a pontualidade dos transportes públicos. Então, a opção é acionar um motorista naquele conhecido aplicativo de viagens.


Suspiro longo e prolongado…


Se proliferam os relatos de quem já ficou mais de uma hora e meia esperando pelo transporte, sem sucesso. Em horários de pico, quando mais motoristas deveriam estar disponíveis (inclusive por as taxas serem mais caras), conseguir um veículo é quase uma missão impossível.


A razão para isso seria um comportamento dos próprios motoristas. Insatisfeitos com o preço das corridas, eles estariam supostamente recusando trabalhos para regiões mais próximas ou para áreas onde há engarrafamento. Como o valor pago é pela quilometragem rodada, muitos se recusam a "perder tempo" parados ou com viagens curtas.


Reflexão...

Pedaço por pedaço, o mito em torno dos aplicativos de carona, o ridesharing, está desmoronando. Me lembro que empresas como a Uber e a Lyft - esta última não opera no país - prometeram a onipresença dos carros autônomos. Prometeram sacudir a indústria automobilística com o fim da demanda por carros particulares. Eles prometeram reduzir o congestionamento nas maiores cidades. Eles prometeram viagens a custos sempre acessíveis. Eles prometeram aumentar o uso do transporte público. Eles prometeram modelos de negócios rentáveis aos acionistas e colaboradores. Eles prometeram um boom de empregos bem remunerados na cadeia de dependência. Eles chegaram a prometer até carros voadores.

Como sabemos, nada disso saiu como prometido (falamos sobre isso mais tarde). Agora, um novo estudo está abrindo um buraco em outro dos benefícios prometidos pela Uber e Lyft: reduzir a poluição. As empresas insistem há muito tempo que seus serviços são uma benção para o meio ambiente, em parte porque reduzem a necessidade de viagens individuais curtas, pois tecnicamente estimulariam o “pool” (conhecido por aqui como UberJuntos) entre passageiros que estão indo quase na mesma direção, eliminando, destarte, quilômetros desnecessários e a angustiante busca por estacionamento na rua.


As viagens de Uber poupam nosso ar da grande quantidade de poluentes emitidos ao ligar um veículo frio, quando ele está operando com menos eficiência, descobriram pesquisadores da Carnegie Mellon University. Mas esse ganho é superado pela necessidade dos motoristas de circularem à espera ou buscarem o próximo passageiro, o que é conhecido como deadhead. A Lyft e a Uber estimaram em 2019 que o deadheading representa cerca de 40% dos quilômetros compartilhados percorridos em seis cidades americanas. Os pesquisadores da Carnegie Mellon estimaram que dirigir sem um passageiro leva a um aumento geral de aproximadamente 20% no consumo de combustível e nas emissões de gases de efeito estufa, em comparação com as viagens feitas por veículos pessoais.


Todavia, disse a Lyft: “ao usar o Lyft para compartilhar viagens, os passageiros estão ajudando a reduzir a pegada de carbono deixada pelo meio de transporte dominante em nosso país - dirigir sozinho”.


Será? E quanto a todas as outras promessas?


Veja o congestionamento urbano. Uber e Lyft previram um futuro no qual algoritmos do seu software estimulariam cada carro a transportar três ou mais passageiros, facilitando o tráfego e fornecendo um complemento às opções de transporte público. Em vez disso, os usuários têm evitado viagens compartilhadas e transporte público em favor de viagens privadas, levando a gargalos no centro de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. A duração dos engarrafamentos aumentou quase 5% nos grandes agrupamentos urbanos no Brasil. Dados de 2020 mostram que em dez anos, a frota de veículos do país passou de 30 milhões para 50 milhões, um aumento de 66.6%


O presidente da Lyft, John Zimmer, certa vez afirmou que a maioria das viagens seriam realizadas por veículos autônomos em 2021, mas o fato é que a empresa em grande parte desistiu de seus esforços nesse sentido, incluindo a venda de sua unidade de desenvolvimento para uma subsidiária da Toyota este ano. A Uber, que antes caracterizava os carros-robôs como “existenciais” para o seu futuro, vendeu sua divisão de veículos autônomos no ano passado após problemas com a segurança devido a graves atropelamentos e os altos custos do projeto.


Supunha-se que o ridesharing deveria acabar por inanição com a busca para se ter um carro particular, colapsando a indústria de montadoras, historicamente detentora de lobes muito fortes em vários países; em vez disso, as vendas de veículos estão subindo novamente este ano, depois de um ano de baixa em 2020, chegando a longas filas de espera em determinadas regiões devido às quebras na cadeia de suprimentos impostas pela pandemia.


Uber e Lyft atraíram os usuários ao oferecer viagens artificialmente baratas que muitas vezes prejudicam os tradicionais táxis municipais. Mas a escassez de mão-de-obra e a necessidade desesperada de encontrar algum caminho para ofertar um futuro que se demonstre lucrativo fizeram com que os preços das viagens disparassem, talvez para um nível mais racional.


A bolha começa a estourar...


Depois de gastar bilhões de dólares, a Uber anunciou que estava finalmente no caminho da lucratividade no ano passado, usando uma métrica contábil que ignora muitos dos custos que na verdade a tornam não lucrativa. Claro, a pandemia teve um impacto descomunal no compartilhamento de caronas, mas embora a entrega de comida tenha ajudado a sustentar os resultados da Uber, a empresa ainda perdeu incríveis US $ 6,8 bilhões no ano passado, após perdas de US $ 8,5 bilhões em 2019, em tempos supostamente melhores. Lyft não se saiu muito melhor, acumulando US $ 4,4 bilhões em perdas combinadas no mesmo período.


Apesar do entusiasmo na IPO (estreia das empresas no mercado de ações), passados mais de dois anos, alguns investidores da Lyft ainda não têm resultados positivos expressivos para comemorar, enquanto os acionistas da Uber conseguiram ganhos escassos e espaçados. Modelos de negócios questionáveis.


É tentador atribuir muito disso ao marketing corporativo. Porém as empresas contornaram as leis trabalhistas e fiscais por anos para ajudar a impulsionar seu crescimento e, ao longo do caminho, transformaram os motoristas em peões no tabuleiro de xadrez, na sua corrida para um lugar que não sabemos ao certo qual é.


As empresas têm razão ao dizer que oferecem um serviço útil, incluindo entrega de comida para quem não tem condições de dirigir, uma alternativa para quem gosta de beber um pouco mais e tem CONSCIÊNCIA DE NÃO DIRIGIR, além do acesso a transporte em áreas carentes (quando o motorista aceita a viagem). Mas depois de anos descumprindo promessas, é difícil acreditar nelas.

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